Eurozona, mon amour (GOG Studio)

La sempre maggiore difficoltà in cui si incontra il capitalismo nel mantenere in vita i propri valori attraverso una cultura, un’arte e scelte politiche ormai superate, anche quando le voleva presentare come “moderne”, ha coinvolto anche la rappresentanza del potere politico (i parlamenti, i governi e gli stati nazionali), togliendole qualsiasi valore effettivo e trasformandolo in mera ed appassita funzione del capitale finanziario sovranazionale. Liquidati definitivamente non dalla rivoluzione proletaria, ma dalla globalizzazione che ha dimostrato l’inutilità dei confini e delle separazioni nazionalistiche, gli stati sono diventati l’espressione e il progetto del modo di produzione della merce nel mondo, divenuto il mondo della merce.

Con l’inasprirsi delle crisi politiche neoliberiste e l’assestamento della crescita cinese, anche la New Economy, insieme alla politica estera unilateralista inaugurata dagli Stati Uniti all’alba degli anni Duemila, ha mostrato il carattere effimero della cura ultraliberale. È molto plausibile che l’emergere delle contraddizioni sociali giocheranno un ruolo decisivo nel plasmare la transizione in corso verso il nuovo ordine mondiale che emergerà dall’incombente caos sistemico.

Testi | Gog Studio | Immagini | Andrej Chinappi | Voce | Hube
Url: https://www.youtube.com/watch?v=F84UjIpjxA8

Mário Castrim: intelectual português de múltiplos talentos

Créditos: retratoscontados.pt

Mário Castrim (1920 – 2002), pseudónimo de Manuel Nunes da Fonseca, foi um intelectual português de múltiplos talentos. Professor, jornalista, escritor, dramaturgo, crítico literário e televisivo, Castrim deixou um legado rico e diversificado na cultura portuguesa.

A sua carreira jornalística teve início em 1965, no Diário de Lisboa. Logo se destacou pela sua perspicácia crítica, dirigindo-a para a televisão da época. As suas avaliações, muitas vezes contundentes, abriram caminho para um novo estilo no jornalismo português: a crítica televisiva.

Com o encerramento do Diário de Lisboa, Castrim encontrou um novo lar no semanário Tal & Qual, onde manteve durante anos a página “Canal da Crítica”. A sua voz tornou-se uma referência fundamental na análise da programação televisiva, defendendo a qualidade e reconhecendo o valor de programas inovadores.

Para além da sua carreira jornalística, Castrim foi um militante comunista ativo, colaborando com o jornal Avante!. Uma faceta menos conhecida, mas igualmente significativa, foi a sua veia poética. Castrim escrevia poemas com grande sensibilidade, revelando um talento literário que ele próprio subestimava.

Créditos: newmuseum.pt

Em contraste com a uniformidade da poesia contemporânea, a dos anos 70 se destaca por sua rica diversidade estilística. Em um período marcado pela crescente irrealidade do espetáculo e pela luta da literatura para manter sua relevância, a poesia daquele tempo mesclava o público e o privado em uma atmosfera palpavelmente utópica.

Nessa época, as vertigens ideológicas e os detalhes do cotidiano se entrelaçavam com ímpeto e teimosia, expressando a esperança por um futuro além dos limites da página. Mário Castrim, soube capturar a essência desse momento, transformando-a em textos surpreendentes que ainda hoje contribuem para o debate contemporâneo.

No entanto, com o final do século XX, a conexão entre poesia e História se desfez, marcando o fim da tradição política e social da modernidade. Escrever poesia, antes visto como uma extraordinária aventura existencial, se tornou um risco cultural. A raiva inicial dos poetas deu lugar à ironia, que tudo distancia, cristaliza e anula.


•────•─────────•────•

A prestação de contas


Um dia
estarás cercado
pelos teus silêncios.

Os teus silêncios
sabem tudo
de ti.

Como é que vais poder fugir-lhes?

É bom que væs pensando nisso
poruqe os dias são rápidos
e as tuas mãos começam a tremer.






Actualidade


O agente da PIDE
está no jardim
da sua quinta.

Tranquilamente
poda as suas rosas.

Ainda não conseguiu
porém
ser canonizado
o que se explica só
por uma distracção
de Sua Santidade.

Tranquilamente
poda as suas rosas.

Chovem lágrimas
longe
chovem lágrimas
que estão servindo agora
para regar as flores
do seu jardim.

Às vezes acontece
o sangue, os gritos, os gostosos
choques eléctricos
e os
apertões nos testículos.

Resta-lhe o sonho. Poda
tranquilamente
as suas rosas.







Procura


Foram ruindo os muros em redor
e não foi o primeiro o de Berlim.
Temos de derrubar outros. Por exemplo
o muro que fez ruir
o muro de Berlim.

Sem isso
que sentido terão os nossos passos?
E as nossas palavras?
Os beijos?
E as frias esperas
pelo autocarro das cinco da manã?

Sem isso, o quê? Por que razão?







Actual

Antigamente
com os bolsos vazios
ficava a gente
a ver navios.

Hoje, não.

Hoje, de olhos vazios,
ficamos a ver televisão.







Patrimônio


Camarada. O sabor
de dizer «camarada».
A invenção do fruto.
O cesto da gávea.
A casa habitável.
A mesa onde há sempre lugar
pra mais um prato.

Não podemos desaprender. Bom dia,
camarada.








Aquela imagem, aquela imagem


O pai protege com o seu corpo
o corpo do seu menino.

Ninguém os defendeu
das balas de Israel.

Oh, vindima do sangue! Quem
beberá deste vinho?

Deus, será bem melhor
para ti
que não existas.



do livro, Mário Castrim, Mais poemas do Avante!, Editorial «Avante!», Lisboa, 2020.

Jorge Aguiar Oliveira | Tondela (Portugal) 1956

Poeta appartenente allo storico gruppo dell’antologia poetica Sião, curata da Al Berto, Paulo da Costa Domingos e Rui Baião, pubblicata dalla casa editrice Frenesi nel lontano 1987. Jorge Aguiar Oliveira si è sempre mosso nell’ambito della poesia portoghese marginale (come quasi tutti i poeti appartenuti a questa notevole antologia). Il proprio centro d’interesse e forza della sua scrittura si fonda sulla devianza e su ciò che sembra non servire più a nessuno. La disforia elegiaca dei suoi versi si intreccia a un’euforia mutevole che spazia dall’ironia, alla rabbia e il disprezzo; la desolazione, l’allegria, il distanziamento, la denuncia. L’immorale sostituzione del confronto con la trovata del consenso tout court, che colora l’attuale scenario politico e le cui conseguenze in termini di viltà e mediocrità sono alla luce del giorno, traspare nei testi di Aguiar Oliveira. Aspetto che è di fondamentale importanza perché, secondo l’autore, condiziona tutta la realtà che ci circonda. In una civiltà nata dallo spirito critico, l’abbandono della dialettica a favore dell’unanimità uniformata, diventa giocoforza un segnale di disfacimento. Siamo così di fronte a un autore che si presenta con un linguaggio energico, graffiante e scontroso con la società odierna, il che lo rende una delle voci più importanti della poesia portoghese contemporanea.


O canil dos cães zarolhos



para o António Cabrita



desgraçadamente ladram mas não mordem

buscam nas urnas os donos
e estes passando a mão pelo pêlo
roubam-lhes a ração da boca
logo à boca das urnas

sempre fiéis e de beiços arreganhados
basta um açoite no traseiro
para ficarem mais obedientes e servis

os cães afiam os dentes
temendo as garras e os bicos dos abutres
numa ilusão - rasante às ciladas
da vida - gretada de palavras febris

uns ousam ladrar mais acirrados
correndo o risco de serem encarcerados
enquanto outros saltam a cerca
antes da manhã derramelar as hienas

e há os que se atiram contra o arame
farpado
esfarrapando-se em massa
num mimetismo desesperante

subalimentados ladram docinho
roçando as pernas dos donos
para ganhar um osso
na praia dos trompetes em chamas
à beira-mar da noite espezinhada
pelo terror das hienas
enquanto anónimos suicidam-se
no sussurro da infâmia
defronte aos que mastigam bolores
para sobreviverem

a caridade vai derramando asfixiante
misturando-se a um crude solidário

e é legal ladrarem um poucochinho
manifestando a ira de açaime sindical

cães velhos corroídos de crostas infecciosas
e respiração barbitúrica
rosnam aos espelhos do requiem
sabendo serem um enfarte de trabalhos
aos tratadores do canil

os veterinários vão ministrando remédios
contra-indicados corroborando
na deterioração lenta das carnes
embebidas em minutos sem sangue
cozinhando a ração para ser distribuída
aos da lista de espera que teimosamente restam
entre restos de lixo e lixos da fé

colocam açaimes controlando a informação
e uma coleira de mecânicas palavras escolhidas
repetidas até à exaustão

a imprensa tornou-se parasita e
os jornalistas uns piolhos de salão
alimentando-se de notícias tosquiadas
ocultam

a incómoda realidade para as hienas

os comentadores do regime viraram coveiros

e dentro das valas vão-se babando
as carraças que gravitam ao seu redor
vendendo-se para se sentarem à mesa
dum ficcionado banquete do real

com pedigree romano/nazi
tem o canil uma nova dona que vem
descaracterizando os sinais únicos
do âmago duma pátria

aos peixes saquearam as espinhas
aos frutos os caroços
e um temporal não se levantou

caminhantes dos atalhos moribundos
lançam ao passar pelos dias de esgoto
sementes bolorentas sabendo de antemão
ser o seu gesto inútil
ser e nada brotar
rosnam trovões sob a morte das searas

lembranças do purgatório ateiam fogo
às papoilas
ao redor jovens cachorros
arregaçam os caninos aos escaravelhos
que esperneiam nos subúrbios do planeta
em agonia
entrançando de nuances uma existência aziaga

nocturnos eram os rostos
diurnos os sonhos improváveis

improvável era encontrar os teus dizeres
guardados numa gaveta de nuvens
prenhas de anjinhos com açaimes
percorrendo lentamente o vazio
onde ao centro um fedelho agrafa
penas de toutinegra nas asas do vento
a raspar a saudade
apunhalando os rostos
no enterro do pensar porque
pensar é um veneno

e os retratos ardem nos lugares alertando
ser o amor um tumor de pó e cinza

perseguem estrada fora os da paz
uma antiguidade

mão de fogo outra de água espelhando o vulcão
cuspindo cadáveres enforcados
depositando a lava para os olhos
dos tempos que hão-de vir
cegando de pavor

pela estrada paralela caminham os da guerra
seguindo por agora no contrário dos outros
reacendendo um sangue no peito

ao fundo a encruzilhada

assim chegámos assim chegaremos
à roda a um fim de mínimos de tudo
onde o todo é um nada

aos cães bastaria
alimentarem-se bem na infância

daí para a frente o cagado seria o alimento
continuado num círculo rotineiro
até a morte aparecer para se alimentar da luz
e cuspir a carcaça

o mundo
mal cheiroso
confluindo merdas de vendáveis ilusões

como não é meu desígnio governar
fazer curriculum perpetuar a espécie
nem mesmo proferir oratórias
com estandartes bordados de lambidelas
a um qualquer regime
uso por hora as letras
para dinamitar
o covil das hienas eleitas
com um cante ao desafio

é escusado irem ver a barca bela
pois já não se faz ao mar
a treta nunca foi nela
e os escravos é que iam a remar

santa Merkel é o piloto
o FMI o general
que nojento trapo levam
o fado de Portugal

as palavras sempre pertenceram à morte

um dia um cachorro das últimas ninhadas
ladrará bem alto pela libertação do canil
ferrando os dentes nas contorções das hienas
até o veneno fritar-lhes o cérebro no parapeito
da janela defronte à estrada muralhada
de cadáveres em vinagre e nadas

nesse tempo de nova rotina doméstica
eu já não andarei por estas bandas

nesse tempo os homens voltarão
por algum tempo de novo a ler
nos remoinhos do saber mais além
enquanto lá longe vou minguando
em busca dos meus olhos laminados
por gente vil que conseguiu tornar-me
na dor que lhes convém

cego seguirei para voltar ao sofrimento da terra
onde todos os trajectos de
todos
os lugares vão sempre dar à morte

por hora
por hora volto
ao aconchego dos braços

o pouco que me resta

Jorge Aguiar Oliveira, Ranço, Companhia das Ilhas, 2014.




--- o ---




Il canile dei cani guerci


per António Cabrita



vergognosamente abbaiano ma non mordono

cercano nelle urne i proprietari
e questi passando la mano tra i peli
rubano la razione dalle loro bocche
quindi dalla bocca delle urne

sempre fedeli e con le labbra ridanciane
basta una frustata nel culo
per diventare più obbedienti e servili

i cani affilano i denti
temendo gli artigli e i becchi degli avvoltoi
nell’illusione - sotto le insidie
della vita - carica di parole febbrili

alcuni osano abbaiare più forte
rischiando di essere imprigionati
mentre altri saltano il recinto
prima che il mattino rovesci le iene

e ci sono quelli che si gettano contro il filo
spinato
lacerandosi in massa
in una mimica senza speranza

denutriti abbaiano con dolcezza
strofinandosi contro le gambe dei loro proprietari
per guadagnarsi un osso
sulla spiaggia di trombe ardenti
sulla riva notturna del mare calpestata
dal terrore delle iene
mentre persone anonime si suicidano
nel sussurro dell’infamia
davanti a coloro che masticano la muffa
per sopravvivere

la carità si riversa asfissiante
mescolata a un olio grezzo di solidarietà

ed è bello che abbaino un po'
esprimendo l'ira della musseruola sindacale

vecchi cani corrosi con croste infette
e respiro barbiturico
ringhiano agli specchi del requiem
sapendo di essere un infarto da travaglio
per i guardiani del canile
i veterinari somministrano i farmaci
controindicati che confermano
il lento deterioramento delle carni
imbevute di minuti senza sangue
mentre si cucina la razione del mangime da distribuire
a coloro che sono in lista d'attesa e che si ostinano a restare
tra i resti di spazzatura e i rifiuti della fede

posizionano le museruole che controllano le informazioni
e un collare meccanico di parole scelte
ripetute fino all’esaurimento

la stampa è diventata un parassita e
i giornalisti come pidocchi da salotto
che si cibano di notizie sfrondate
che nascondono

la realtà scomoda per le iene

i commentatori del regime sono diventati becchini

e nei fossati sbavano
le zecche che gravitano intorno a loro
si vendono per sedersi al tavolo
di un banchetto romanzato del vero

con pedigree romano/nazista
il canile ha un nuovo proprietario che
decaratterizza gli unici segnali
del midollo di una patria

hanno saccheggiato le lische dei pesci
ai frutti i noccioli
e una tempesta non si è scatenata

camminatori delle scorciatoie morenti
mentre attraversano i giorni del liquame lanciano
semi ammuffiti sapendo in anticipo
che il loro gesto è inutile
essere e non germogliare nulla
ringhiano i tuoni sotto la morte dei campi di grano

ricordi del purgatorio incendiati
papaveri
intorno ai cuccioli giovani
strappare con le zanne gli scarabei
che si aggirano per le periferie del pianeta
in agonia
intrecciando un'esistenza avversa con sfumature

notturni sono stati i volti

quotidiani i sogni improbabili

era impossibile trovare le tue parole
conservate in un cassetto di nuvole
pieno di angioletti con museruola
che viaggiano lentamente nel vuoto
dove al centro un bambino graffetta
piume di capinera sulle ali del vento
per radere via la nostalgia
trafiggendo voltii
nella sepoltura del pensiero perché
il pensiero è un veleno

e le immagini bruciano in quei luoghi per avvertire
che l’amore è un tumore di polvere e cenere

inseguono la strada fuori dalla pace
un’antichità

una mano di fuoco e un’altra d’acqua che specchiano il vulcano
mentre sputa cadaveri impiccati
versando la lava negli occhi
dei tempi a venire
accecando con il terrore

sulla strada parallela camminano quelli della guerra
per ora in senso inverso rispetto agli altri
riaccendendo il sangue nei loro petti

in fondo al crocevia

ecco quanta strada abbiamo fatto, ecco quanta ne faremo
in giro e in tondo fino alla fine del minimo di tutto
dove il tutto è niente

ai cani sarebbe sufficiente
nutrirsi bene durante l'infanzia

da quel momento in poi, la merda sarebbe il cibo
per proseguire in un’orbita abitudinaria
finché la morte non appare per cibarsi della luce
e sputare la carcassa

il mondo
puzzolente
confluente di merde di illusioni vendibili

poiché non è mio scopo governare
fare curriculum per perpetuare la specie
né di tenere un'oratoria
con striscioni ricamati di leccornie
a nessun regime
per ora utilizzo le lettere
per dinamitare
il covo delle iene elette
con un canto di sfida

è superfluo andare a vedere la bella barca
perché non è più in mare
le stronzate non riguardavano mai lei
e gli schiavi erano quelli che remavano

santa Merkel è il pilota
il FMI il generale
che disgustosi stracci indossano
il fado del Portogallo

le parole appartenevano sempre alla morte

un giorno un cucciolo delle ultime cucciolate
abbaierà ben forte per la liberazione del canile
conficcando i denti nelle contorsioni delle iene
finché il veleno non friggerà i loro cervelli sul parapetto
della finestra di fronte alla strada murata
di cadaveri nell'aceto e nel vuoto

in questo tempo di nuova routine domestica
non sarò più da queste parti

in quel tempo gli uomini torneranno
per un po' di tempo a leggere di nuovo
nei vortici del sapere dell'aldilà
mentre io, lontano, mi affievolisco
alla ricerca dei miei occhi laminati
da gente ignobile che è riuscita a trasformarmi
nel dolore che fa per loro

Sarò cieco per tornare alla sofferenza della terra
dove tutti i sentieri di
tutti
i luoghi portano sempre alla morte

per ora
per ora torno
all'intimità delle mie braccia

quel poco che mi è rimasto

Shot Bairro Alto


és tanso shot
bebendo bujecas
caipimerdas
vão à merda shot
falaciosos de calão
sem nexo shot
vidas falidas
copos plásticos
palhinhas e limas
arremessadas ao chão
garrafas de tinto
cerveja e vodka partidas
entoando és merda
já foste bat’fundo
deixa k’eu chuto
chupo outro
shot chamon cu de judas
guinchos histéricos
para abafar o malogro
do futuro
que os espreita

atormentados
seguram-se à bóia
impingida de ser
europeu é québom
shot o massacre de civis
continua
continua
a manipulação o controlo
câmaras de vigilância
nas esquinas das ruas

que se fodam
os europeístas
venha um grogue
a minha barricada
é o mundo
sou português


Jorge Aguiar Oliveira, Ranço, Companhia das Ilhas, 2014.





--- o ---




Shot Bairro Alto


sei shot di tanso
bevendo bujecas
caipimerde
fanculo shot
gergo balbettante
shot senza senso
vite in rovina
bicchieri di plastica
cannucce e lime
gettati per terra
bottiglie di vino rosso
birra e vodka rotte
cantando che sei una merda
hai toccato il fondo
lasciami calciare
succhia un altro
shot chamon culo di giuda
strilli isterici
per soffocare il fallimento
del futuro
che si prospetta

tormentati
si aggrappano alla boa
illusi di essere
europei che bello
sparare al massacro dei civili
continua
continua
la manipolazione il controllo
telecamere di sorveglianza
agli angoli delle strade

fanculo
europeisti
dammi da bere un grog
la mia barricata
è il mondo
sono portoghese

i


no aterro da sina
perdeu a mamã
na explosão à sua beira

abandonado
de braços mutilados
o miúdo não mais
sentou o rabo no baloiço
e, o berlinde pràli ficou
inútil no bolso
do resto do tempo

só as joaninhas
continuaram a saltar
à corda
defronte a’olhar



Jorge Aguiar Oliveira, Aterro, Companhia das Ilhas, 2022.




--- o ---



i


sulla discarica del destino
ha perso sua madre
nell'esplosione accanto a lei

abbandonato
con le braccia mutilate
il bambino si è appena
seduto sull'altalena
e, la biglia è rimasta
inutile nella sua tasca
per il resto del tempo

solo le coccinelle
continuavano a saltare
sulla corda
davanti al suo sguardo


vi



contrabandistas
de corpos
sacam órgãos aos miúdos
pròs feiticeiros usarem
na vigarice do reacender
das virilidades
perdidas
de ratos de laboratório
também servem
os miúdos
sem saberem
ainda curtir
uma madrugada
inteira



Jorge Aguiar Oliveira, Aterro, Companhia das Ilhas, 2022.





--- o ---




vi

trafficanti
di corpi
prelevano gli organi dai bambini
per essere usati dagli stregoni
per riaccendere le scommesse
delle virilità
perdute
di topi da laboratorio
servono anche
le nidiate
inconsapevoli
ancora di dover soffrire
un'intera
mattinata

Miquel Ricart Palau | Barcelona (España)

     La ontología existencial de la que está impregnada el pensamiento filosófico y poético de Miquel Ricart, remite al carácter central, céntrico y radical, del límite y del ser del límite. En particular, la experiencia emocional y sentimental que se manifiesta en sus poemas revela un modo de ser o estar entre el ser y la nada. Así que en los versos de este autor se puede advertir la presencia de ese límite, el carácter de frágil línea sobre la cual se traza la propia aventura de vida a partir de la angustia existencial. Esta última debe ser comprendida también desde ese límite, desde una existencia siempre amenazada y siempre emplazada en relación con un fin una y otra vez aplazado. Es como si el autor se sintiera sumido a cada instante en medio de la frágil dialéctica que existe entre el ser y la nada y entre el ser y el sentido, en dirección irremediable hacia el absurdo. 
Acaso la emoción puede ser el medio a través del cual se puede llegar a documentar ese límite y lo que se halla más allá de este. El sentimiento y la emoción pueden hacernos vislumbrar la matriz de la existencia misma para conducirnos en la trayectoria inequívoca que lleva hacia el principio matricial del que se procede y, de esta manera, alcanzar una unión pura y efusiva con ese principio. Sin embargo, sentimiento y emoción mantienen vínculos inseparables con la razón (razón del límite). De hecho, estas categorías se incluyen mutuamente, se superponen en cierto modo. Aun así, con la investidura de la razón el mundo ya no puede ser una simple ordenación del caos primigenio. Y en relación con ese mundo investido de razón, aparece el límite ontológico que discrimina el ser de la nada, la separación de la existencia de la matriz. Por este motivo reaparece el asombro que pregunta por el fundamento de ese precario sentido que se juega en la frontera del sin sentido. En otras palabras, hay una reapertura hacia la trascendencia. Acaso de ahí deriva la exigencia de querer acceder al misterio de la trascendencia que se deja adivinar allende el límite. Un misterio que puede postularse como matriz que falta para dar razón potencial del existir.
Sin distanciarnos mucho de la perspectiva ontológica, la poesía de Ricart puede ser interpretada también como medio que ofrece algunos elementos hermenéuticos personales que sirven para indicar cómo la poesía puede reflejar el empobrecimiento de la época actual y nos invita a salir del mundo interior fetichizado donde se origina su alienación.


Ante la manifestación de la existencia,


Sí claro, los ríos bajaban llenos de sangre.
Abierto en canal, en dos mitades latentes,
me desangraba a chorros
mientras mi sangre, a mi sudor unida,
formaba una sustancia nueva que provenía del amor.
Al mirarme las manos, y verlas también llenas de sangre,
por entre mis músculos busqué mis vísceras,
y las encontré desangradas por tu amor renacido.
Para conseguir humedad
me quedé quieto, ya no muy lúcido,
y las partes más desconocidas de mi cuerpo, a mi ruego,
segregaban linfa y líquidos amarantos.
Sí claro, la noche escondía
el color rojo de la sangre;
pero yo no podía ya desangrarme más,
porque mis manos ya dudaban,
porque todo se enturbiaba,
porque me faltaba tu presencia,
porque al no estar tú
para que quería yo la sangre,
sino era para multiplicarte, para revivirte,
para acrecentar en ti mi recuerdo,
para estar ahí, a tu lado, junto a ti,
terreno de secano bajo tus ojos.


[ de Miquel Ricart, www.miquelricart.net ]

Como todo forma parte
de un mismo misterio,
y no pudiendo decir la verdad
sin verterme en el vacío,
me he encontrado como un ave parada en pleno vuelo,
con las alas perladas
de ese estupor que nos detiene en vilo,
mientras la voz también se detiene, y se derrumba,
entre tanto misterio que se calla.
Y a quién pregunto,
si las respuestas se abren llenas de duda,
y a quién solicito certezas, si en cuanto surgen se abren
lanzando gritos de muerte...


[ de Miquel Ricart, www.miquelricart.net ]

Cuando muera el hombre solitario,
le saldrá agua antigua del pecho:
su delgadez, sus ojos tristes...
Cuando muera el hombre puro
le correrán aguas espesas por las ingles;
su ingenuidad, el velo espeso...
Cuando muera el hombre dolorido
le manará noche del vientre
y un remanso de agua tibia
remontará los cauces más resecos...


[ de Miquel Ricart, www.miquelricart.net ]

No era fácil, no,
levantarse y echarse a andar,
con los ojos arrasados de lágrimas:
entonces sí, la oscuridad golpeaba mi soledad
con un grave ruido de tambores
que retumbaban en la línea de mi corazón.
No era fácil, y que digo la verdad
lo prueba aquel silencio
que se deslizaba en la penumbra.
No era fácil, qué va,
continuar qué sé yo hacia dónde:
¿por el sordo laberinto de mis cálidas vísceras?
¿resbalando sobre mis ácidos flamígeros?
Hacia ningún sitio,
aturdido en la acera,
no era fácil seguir a mis propios pasos cansados,
seguirme a mí mismo
desde la acera
hacia el interior de la noche...



[ de Miquel Ricart, www.miquelricart.net ]

Una luz de Poniente
me preguntaba si vendrías.
Ráfagas del viento del Norte
se llevaron la respuesta.


[ de Miquel Ricart, www.miquelricart.net ]

No como aquel tiempo de entonces.
No. Como aquél no.
Debías tener las manos juntas.
Y los ojos cerrados.
Pero yo te llamaba por tu nombre verdadero.
¿Te acuerdas?
En mí, tu yo se repetía.
Como poniendo la mano plana sobre el agua quieta.
Nunca como aquel tiempo de entonces.
No. Vencidos nunca más.


[ de Miquel Ricart, www.miquelricart.net ]

MARIA AZENHA | Coimbra 1945

Ainda hoje estudiosos e leitores não têm podido acolher em todo o seu âmbito a contribuição de Maria Azenha para a poesia portuguesa contemporânea. Uma poesia que define os papéis e lugares da escrita para delinear sua incidência na relação entre mulher e sociedade. A escrita assegura à Azenha a liberdade e a coragem de dizer exatamente o seu pensamento, tendo em mente que a criação artística depende da relação com a realidade. Além de vagar com seus versos no coração das memórias de infância em busca de uma verdade precária, a autora também fala sobre sua relação com o mar, reafirmando os componentes do movimento e da liberdade. A morte é outro dos principais temas de sua escrita, é traduzida com uma linguagem culta e ainda transparente, alheia às implicações lógicas, aludindo a um equilíbrio harmonioso entre a fisicalidade e as inserções metafísicas.

chuva marítima


é noite geral


a linha da pobreza

O presente constitui para Maria Azenha o único tempo próprio para a poesia, sem passado. Não seria correcto dizer também sem futuro, porque o futuro, assim como o passado já estão absorvidos por si mesmos num presente absoluto e intangível que é o presente da palavra. De tal forma, tempo e palavra não se excluem, só se separam para unir-se incessantemente. A poética da Azenha se consome nesta transição temporal de uma realidade que se murcha sem cessar. Portanto, ante a lembrança, a poeta vai em busca da inocência da palavra e o fará sondando no interior de nossa hermética vida até encontrar esse centro desde o qual é possível possuí-lo já tudo, ou perdê-lo. Os versos da Azenha são um encantamento para descobrir essa realidade cuja marca se encontra na ávida angústia da interioridade.


até explodir nos lábios


Três mães. Três poemas de areia


Se um poeta não trabalha para chegar ao fim para propor sua própria visão da alma, da sociedade, do cosmos, para que ele trabalha? Uma cosmovisão amadurece lentamente no trabalho de um poeta. E o poeta como meio da palavra tem mais deveres do que um apresentador, um rapper, um influenciador ou um político que muitas vezes não sabe o que diz, e o que diz é resolvido em simples banalidade. O poeta conta a realidade dos sentimentos individuais, da história coletiva, para que o espírito e a qualidade dos tempos mudem. Tudo pode mudar, e de fato muda, nada pode ser feito para impedi-lo. Diante desta
situação, a solidariedade de destino socialmente criado não é uma questão de escolha.

Quando lemos de que visão do mundo Maria Azenha é portadora, somos nós mesmos diante de um mundo, da diferença, da complexidade e da maravilha das coisas. A curiosidade contida em seus versos nos arrasta onde ainda podemos descobrir os fragmentos da verdade sobre nossa alma e sobre a sociedade e a própria civilização em que vivemos. Assim, os seus são poemas que interpretam o mundo, mostrando o animado no inanimado, o visível no invisível.

O niilismo presente na nossa contemporaneidade, é expresso como a lógica da «morte de Deus», da vontade superadora, da recuperação de sentido. Hoje a lógica niilista é a secularização, a autonomia e a globalização como lógicas pós/modernas de compreensão do «eu», da «realidade» e da «história». A palavra de Maria Azenha não finge de não ver a presença de forças esmagadoras que tentam extinguir a natureza dentro e fora do homem, o valor único e sagrado da pessoa humana, e da própria linguagem, mas faz uso duma palavra que acredita em suas próprias razões e a defendem a todo custo.


eles estão aí! eles estão aí!

Entrando no terceiro milênio, Azenha continua a observar, investigar, analisar sua realidade interior e a do mundo externo, revelando a agudeza e fortaleza que nos permitem entrar no coração de seu pensamento e investigar a qualidade de sua mensagem. Uma poesia, portanto, que quer revelar ao próprio homem seu ser em sentido ontológico, histórico e emocional, e dar respostas de autenticidade humana. Enfim, a Poesia de Maria Azenha supõe a repercussão de uma conquista individual e coletiva, de uma ocupação e preocupação do nosso tempo presente como objeto de reflexão, de uma consequente reinterpretação do protagonismo do sujeito na construção de sua história.

DANILO DOLCI | Sesana (Trieste) 1994 – Partinico 1997

Crediti: http://www.salvisjuribus.it

Dolci ha rappresentato il versante laico del solidarismo italiano impegnato, polemico e oltranzista. I temi d’interesse storico, umanistico ed epocale sono presenti nelle sue poesie. I suoi versi si prefiggono di emancipare e riscattare gli umili dal loro destino di vittime, fino a coinvolgere perfino i reprobi, troppo spesso e comunque dominati e offesi dal potere e dalla sua tracotanza. Lo stesso Dolci dichiarava che la poesia «è il prestarsi alla vita della gente analfabeta che non sa esprimersi», è anche, si può aggiungere, diventare la loro penna e la loro voce. Dunque, una poesia intesa come indagine e illuminazione per raccontare il proprio impegno quale uomo e quale scrittore, teso in una equilibrata rivoluzione permanente.






Le poesie qui pubblicate provengono dal libro: Danilo Dolci. Creatura di creature. Poesie 1948-1978 (prefazione di Mario Luzi), Armando editore, 1986.

Frugando il diurno alito opaco
di smog e incenso
rumorose fiumare di fari accesi
fiottano su piastre incatramate.

Se tutta s'incrosta, una creatura soffoca.

da" L'odore del fumo


"Lager dei bambini in Litzmannstadt"

27 novembre

N. 1239
Cara mammina,
perché non sei venuta quando ti ho scritto di venirmi a trovare?
Perché non mi hai mandato da mangiare, e ora cara mamma ti
prego venirmi a prendere. Ti prego ancora una volta cara mamma
non dimenticarmi di venirmi a vedere. Cara mamma ti prego vieni.
Non dimenticare. Cara mamma ho finito la mia lettera perché
non ho più altro da scrivere tuo
Jerzy''

Dopo oltre un quarto di secolo
ancora, quando dice Gestapo
si guarda attorno furtiva.


da" L'odore del fumo


Molti ancora non sanno:
il lager è tra noi, è in noi,
non si può stare male per una lampada qualsiasi,
non si può stare male per un sasso.

Non so se i giovani sanno
in ogni parte del mondo:
non c'è rivoluzione se si trattano gli uomini come sassi.

Ma sapere solo Auschwitz o il Sudafrica, intossica:
ai giovani occorre, anche,
l'esperienza di un mondo nuovo davvero.
Ad Auschwitz ci torno volentieri,
mi dà la misura dei fatti".

da" L'odore del fumo


"Uno dei tanti lager di oggi,
lager di Holezmann
una delle imprese che più costruisce
lussuosi appartamenti in Europa.

Nelle allineate baracche di legno
uomini ammassati per spremerne il lavoro
non possono ricevere amici -
quattro in una stretta stanza
pagando settantacinque marchi al mese
ciascuno, uomini soli.
- Verboten -
-Perché verboten?
- Perché non si può -.

Iugoslavi italiani portoghesi greci
turchi spagnoli sono venuti qui a cercare
il mondo sviluppato.
Se si fa una questione, ci si perde il tempo.
Anche se non possiamo fare la nostra vita
noi non ci possiamo niente
se protestiamo ci buttano via
e chi dà da mangiare ai bambini
alle famiglie che aspettano lontano?

Là si lavorava sconfitti
chi ci ha mangia
chi non ci ha può morire,
qui si mangia e si avanza qualche soldo
ma si resta sconfitti in altra maniera.
Se questa gente si organizza
trova lavoro nella sua terra,
e non solo il lavoro.

Parlare al direttore del lager?
- Verboten -
- Warum verboten? -
- Verboten -
Ma perché verboten? -
- Alles verboten -

Questo era un lager di prigionieri -
e questo è il mondo democratico,
questo è il mondo nuovo.
Dalla mattina alle cinque alla sera alle sei
calcolano otto ore -
questo il mondo dei calcolatori elettronici?"

da" L'odore del fumo


Accusandolo antidemocratico
lo mungono insistendo fino al sangue.


da In questo frammento


Non le tue nere lacrime
su me sepolto: coerente
sputa.


da In questo frammento


Ti detesto, New York
non perché città
(eppure nel rugginoso carcame
tra il luccicore opaco delle foglie
rigide, senza umore, semi intensi
germogliano):

perché credi di esserlo.



Dal vuoto umoso degli steli erbosi
da guaine annodate a incollonarsi elastiche
prati e boschi iniziano le canne
d'organo.

da In questo frammento


Tra chiazze di sangue sull'asfalto
macule scivolose di vomito
ululo minaccia lamentoso rogna
profonda, gente agitata
con un cappio al collo o una catenella
tra grinte di grattacieli
schiva contra cupa.



(Un vecchio nella strada di Trappeto ripeteva
tirandomi la maglia, non capivo,
"ci sono le anatre":
con la diga, annunziava
pure le anatre sanno il nuovo lago
a inverdire la terra -
mai restate
ora fiottano in acqua confidente)



Si incrociano macchine inseguendosi
strette sfrisano rabbiose
frenano a strappo sussultano
fischietti trivellano orecchie ognuno tenta
vendere qualcosa
chi non si droga è anormale.


da In questo frammento


Una collaudata ricetta per asservire:

suadere il nudo è osceno,
volgare il genere

preziose le scatole stampate
dal garante dell'ordine -

il rivoluzionario, spento
è più sicuro.



Per rimanere servi:

annegare la rabbia in lamentele

tentare senza rischio di pescare
paradisi privati -

continuando adulare
il pene del padrone.




Per ogni caso
a intombare affioranti rimorsi
di privati rapporti
invelena gli sciami delle api.



da In questo frammento

Marta Fabiani | Pavia 1953 – Nizza 2014

Notizie esaurienti riguardanti la sua biografia non sono facilmente reperibili. Negli anni Settanta dello scorso secolo, poeti quali Giancarlo Majorino, Carlo Porta e Giovanni Raboni, avevano saputo apprezzare le doti di rara bellezza presenti nella sua poesia. Il linguaggio incalzante con il quale si presenta nella raccolta di poesie Maratona, Cooperativa Scrittori, Roma, 1977, è solo una dimostrazione della carica dirompente di questa poetessa che ha sconcertato le contrade del gusto italico. L’espressività pressante dei suoi versi costituiscono un fluido amalgama in grado di alternarsi fra acrimonie verbali ed esaltazioni espressionistiche, i cui vincoli fanno da eco nel terreno scontroso del proprio vissuto umano (di donna) e su quello metafisico. Insomma, si è davanti a una poetessa che ha preferito restare sé stessa, piuttosto che inseguire le mode del momento.


Poesia n.18
Epistolario



Stai seduta sul gabinetto
con la tua garza indiana
mentre bevi la polvere del vomito
della donna gravida.
Col piede scosti il vaso dove
ha passato delle ore il bambino a cagare
aveva un anno, ma tu su questo non cedevi
bianco rosso e di tutti i colori ma tu
aspettavi che tornasse roseo
solo dopo aver finito. Basta, adesso ha una tata
comoda e neutra, quasi sempre neutrale,
e tu hai un’amica, e io
forse ho te, mentre ti faccio gli impacchi
d’aceto
e tuo marito ti coccola.
Dici che ti ha spaccato
la fronte col bicchiere:
dici che di qui non te ne vuoi andare.
Dici che quell’impiego mezza giornata
è una truffa: lo vuoi lasciare.
Tuo marito sa cucinare, è un gran maître,
era il tuo barman, tu
disponevi piatti allegri
in quell’inferno di acciaio e smalto blu.
Calcolatrici Honeywell, cieli cibernetici
tu contabile in qualche
ufficio col parquet.
Ma la nostra casa ha le scale
mobili; lui ti tiene qua.
Tutto elettrico, il gas non ce n’è:
niente maniglie alle porte, al massimo
lo sbrego pietoso di un bicchiere.
Senti i passi del vicino
disturbatore, che una volta il 113 ha chiamato.
Tu mai: il maritino
vuole cucirti il taglio, e gentilmente
si ripulisce le ferite col limone.
Tutto avviene in silenzio, da te:
io urlavo, urlavo, tu mi davi consigli. Tuo figlio
è uno schifo: piscia e frigna
mai che sorrida, quanti anni
di giochi didattici arretrati.
Hai ceduto, cogliona, questo è il prezzo
di saper aspettare
io ho saputo aspettare fin qua.
Mi sembrava finta la tua preparazione,
non mi sbagliavo: non era una vera vocazione.
Piantala di guardarmi
con gli occhi allucinati: vuoi che t’insegni
come si fa a esser sola, isterica, ninfomane
e parzialmente frigida? In due parole, insomma
una specialità?
Mi dispiace, troppo tardi,
da te non posso più imparare
ma da me tu niente.
Complicità del mestruo, roba vecchia
visciolo canale
che conosco quelle cose.
Malgrado tutto, cara
lui è ancora il più abile ad aggiustare.
Non portarmi la testa di tuo figlio
sul piatto della tua saturazione:
troppe emicranie, ville, pance gonfie
non te ne puoi disfare
disfare così di un marito.
Ti strappi la pelle dalle unghie
e lui beato passa l’aspirapolvere
mentre quel mostro strilla
l’Ineducabile.
Ho portato fasce, cerotti e passeggini,
assomiglio anch’io a una madre normale,
a una moglie normale. Se ci somiglio io
cosa vuoi essere tu
stronza
meno uguale.



dal libro: Maratona, Milano, Cooperativa Scrittori, 1977.

Poesia n. 35


Tu che ridi
del mio Dio
omniassente ebetoide
mezzo calvo e mezzo albino
mezzo orecchino e catenella
all'uccello, con e senza
una rotella all'occhiello
del suo rotary, e in più
mister patou
tu, spauracchio d'efficienza
con la borsa del dottore
delle sette meraviglie
tu ragazzo spermicida
acqua-sapone, che sciacqui
la tua rabbia egualitaria
nel bidé, e lasci
uno sputo sullo specchio (e inorridisci
quando vedi
che lo appendo tra i cimeli)
tu fanciullo senza peli senza odori senza [voglia
di un colloquio a tu per tu con le mie [gambe
inequivocabili, tu amico
risentito e sprezzante
sulla porta sventolante
le tue credenziali intatte
e ronzano profezie
d'imminente slittamento culturale
e ancora preferenze sulle scale
la tua ultima bestemmia
al mio Dio
di velina ultrasensibile
che trepidante svolgo
per tornare ad onorare
al suo pallido e anemico
stivale, ai piagnistei
dell'ennesima sua crisi
di coscienza, porco dio seminaguai
caro dio di tolleranza e bronzo
tintinnante cupo al tocco
d'amuleto del dio-gonzo
che li faccia impallidire
e indietreggiare
e alla fine andare andare
Perentori cavalieri
tra i cimeli a protestare.





Ana Deus interpreta “cola-cola song” de Alberto Pimenta | Porto 1937

Alberto Pimenta com Alexandre O’Neill, Eugénio de Andrade, Miguel Torga, Pedro Tamen, Vasco Graça Moura e outros, em 1977.
https://poetria.pt

Pimenta foi leitor português em Heidelberg (Alemanha). Foi contratado pelo governo português em 1960 e despedido em 1963 por se opor ao regime fascista português e às políticas colonialistas em África. No entanto, ele não voltou para Portugal naquela época porque trabalhava na Universidade de Heidelberg. Lá permaneceu até regressar ao seu país em 1977, poucos anos depois da Revolução dos Cravos.





Fabio Franzin | Milano 1963

La voce di Franzin è la voce che canta l’esilio dal mondo e, con esso, dalla felicità. L’esilio rimanda a un’esperienza reale e storica e alla sua conversione che, per mezzo della parola poetica, la trasforma in pura metafora. All’interno di questo esilio c’è una prospettiva che è misura di realtà; una situazione concreta che si accetta o si rifiuta; e certe circostanze sulle quali si struttura la vita, immersa in una realtà e, per contro, in ciò che ne resta. Questi fattori rimandano sempre a ciò che resta dentro o fuori di questa realtà. È come se il suo autore si trovasse all’interno di cerchi concentrici che segnano un dentro e un fuori; un interno e un esterno, un qui e un lì, un ora o un mai. Uno stare e un essere; o un non stare o un non essere; o non voler essere.

Gabriela Iliescu



Quando ho letto l’articolo nel Gazzettino, / la tragedia che ti ha colpita, // una mattina di nebbia che
sembra / pioggia, il sei dicembre duemila / undici, mentre tutta l’Europa / è sotto scacco per un’economia
/ malata e senza cuore, mi sono collegato / ad internet per capire meglio, anche / io ho sgobbato vent’anni
alle presse, / so del sudore mischiato al calore, / i gas che intossicano, i tempi di produzione / da rispettare
per portare a casa un tozzo / di pane. Ho cliccato il tuo nome, su / google, e subito mi è apparsa / una
schermata di foto di una bella ragazza, in posa / sulle copertine delle riviste di moda. // Pensa al destino,
cara Gabriela: una tua omonima, una / nata nello stesso paese che vi ha / viste emigrare in cerca di
fortuna // fa la modella, sogno di ogni / ragazza, in questa epoca, ha il sorriso / stampato su poster e
pubblicità, lo / fa sbocciare sulle passerelle rosse, / davanti ai flash, dall’estetista // il tuo spento fra due
stampi / di ferro e gli scarti di plastica.



dal libro Fabrica e altre poesie, Borgomanero, Ladolfi editore, 2013

Fra i confini della vita





Questi strani giorni d’autunno, ora così caldi / e limpidi, ora così coperti e umidi, così nebbiosi.
//Un urlo il vento, ieri notte, e il buio frustare di fronde / contro le finestre appannate dell’ospedale.
// E i nidi, pensavo: se ce ne sono chi appronterà / un telone sotto gli alberi? E poi il primo notare /
che il giallo dei topinambur esploso lungo le sponde / del Livenza rima con quello delle foglie dei
pioppi / che ne costeggiano i suoi argini. Questi strani giorni / d’autunno e i fogli del calendario
che mi cadono / inzuppati dalle mani dicendo di un arrivo / e di un’altrettanto imminente partenza.
/ Con le stesse labbra con cui ho baciato la fronte / emaciata di mio padre ora ausculto questi /
quasi impercettibili sussulti, questi cari calcetti / appoggiandole sul ventre teso di mia moglie. //
Piovono foglie rosse ora, sulle lenzuola stropicciate, / lungo i candidi corridoi istoriati dal dolore.
// Adesso so, con la più assoluta e crudele delle certezze / che colui a cui devo la mia vita e colui / a
cui io la darò non riusciranno ad incontrarsi. / So che mio padre, nonostante tutto il suo bene, / non
mi permetterà di gioire appieno per la nascita / di mio figlio e so che la nascita di mio figlio / non
mi permetterà di piangere mio padre come merita. // Io sono qui, con una mano stretta / a cercare
di trattenere e l’altra / aperta nel gesto di accogliere, di cullare. // Non so con quale delle due sia
riuscito a scrivere queste parole.


dal libro Pare, Helvetia, Spinea, 2006.

Presepe. Dialetto



Quella benedetta buona voglia / che ti prende di allestire il presepe, / ogni anno, e ogni anno più ampio, /
più ricco; la cura, minuziosa, in ogni suo dettaglio, / la passione. Lì, accucciata / sui calcagni in un angolo
della sala, / tu, così malandata che, lo / capisco, sai? quanto ti dolgano / le ginocchia, poi, mentre ti
risollevi... // lì, a fermare il cielo stellato / con le puntine da disegno, nel muro, a sistemare / tutte le pecore
nel muschio... e il fuoco, / poi, con le luci intermittenti sotto / un batuffolo di carta delle arance... le cortecce
/ grinzose del rovere per il tetto, le stradine di ghiaino, / il pozzo, l’acqua che scorre in un letto / di stagnola,
e lui, il Gesù bambino, / con le braccine aperte, fra la paglia / e un nido di bastoncini incrociati... // per i
nipotini, lo so, capisco... // ma tu non capisci che non è più tempo / che non c’è più sacralità, che io non ho
più tempo per andare / a raccogliere il muschio che ti serve, / che non so neppure dove andare a cercarlo,
poi!... / e che non ci credono più, i bambini: è più / il disastro che combinano... che poi / sbuffi, a riattaccare
con il nastro adesivo / la carta che strappano per toccare le stelle / con le dita, a togliere dal muschio / i
sassolini delle stradine sparpagliate, / a mettere in piedi statuine ribaltate... / che mi verrebbe quasi voglia
di dirti / basta, mamma, lasciala perdere questa poesia, / sacra; e guarda i nostri paesi, piuttosto //
guardali! che sarebbe da riempire tutto il muschio / (muschio che quest’anno ho persino visto / fra gli
scaffali dell’Ipercoop; che era / in vendita, capisci? vendono anche quello / ormai! che sarebbe da
disseminarlo, / quel muschio, di scatole di scarpe / e di quelle delle tue medicine, delle mie sigarette, / così, a
figurare questi distretti di capannoni industriali, di Centri / Commerciali, che sono, ormai, il reale
paesaggio / che i tuoi nipotini vivono, conoscono... il tubo della carta / igienica per mimare ciminiere... i Re
Magi / farli arrivare su di una di quelle macchinine di mio figlio: / al modellino di un fuoristrada, di una
Bmw, / di una Mercedes, altro che cammelli... / che Gesù bambino non appare in tivù, / non va ai reality, ai
talk-show, e quindi non esiste, / capisci? non è un vip, non è più nessuno... // Guardaci, mamma: siamo qui,
io e te, tu con le tue / statuine, il muschio, io con le mie povere parole, / con il dialetto; guardaci: cerchiamo,
strenuamente, di trattenere / a noi un mondo che si allontana a una velocità / impressionante, avvolgendolo
di valori, di sentimenti, / popolandolo di erba e pastori, di storie / che odorano di fieno, di muffa. Siamo
proprio ridicoli! // però, ascoltami, mamma: andrò a raccogliere / il tuo muschio anche il prossimo anno, te
lo prometto // continuerò a raccogliere parole / vecchie, ogni giorno, per la mia poesia, per il presepe / e per
i nipotini che arriveranno anche a me...




dal libro Mus.cio e roe (Muschio e spine), Milano, Le voci della luna 2007.

HANNI OSSOTT | Caracas 1946 ~ 2002

Hanni Ossott. Foto Vasco Szinetar.

DE HABITACION Y ALCOBA



A mis padres, a su anillo...


"Pero en el instante en que el cofrecillo
se abre, acaba la dialéctica”.

Gastón Bachelard. La poética del espacio.




UNO



Mi habitación es un poema menor amable
está poblada de cosas
libros, cajitas, souvenirs de cierta carga
postales fotos quimeras
innumerables zapatos, por todas partes cunden
los zapatos de tierra

casi como un pánico

Hay un closet, no muy repleto, de vestidos definitivos
los que no me pongo los espléndidos
y los difíciles de fiestas
también también
los ruinosos, los agostados de tanto amor
y aquellos que ya no están los regalados a la
[hermana
y los frágiles y cansados para los días sin
[fuerzas
y pantalones para escribir, fregar, jugar

Mi habitación su suelo soporta
una alfombra barata
conquistada en Grecia

y un televisor

— canción de cuna de maridos
Mi habitación tiene la lamparita de medianoche
no la utilizo para leer
la uso para soportar las imágenes
de sueños
y así estar atenta

Y hay allí un rojo joyero de doble fondo sin grandes
[pretensiones
sin fantasías
que escondo cuando voy al mar
porque temo al ladrón.

Nosotros solemos decir que la habitación es un cuarto

Es el cuarto
de una esfera.

[ ... ]

Marzo, 1982



Hanni Ossott, hasta que llegue el día y huyan las sombras, Caracas, Fundarte, 1983.

EL CIRCULO PRECISO




Tú y los otros me llegan de huellas y entre sombras
aparecen cruzados entre líneas de activos verbos
sobreabundantes
advienen entre ritm o extrañamente asociado
son el cortinaje transparente
desplazado suavemente dejando entrever apenas

Tú también te alzas
desde el fondo nocturno de un pantano antiguo
y te enlazas y adhieres al nervio de mis últimos ojos
afirmado a un presente que sabiamente
[ignora lodos

Así recuperamos las sombras, las figuras,
entre hilachas
figuras ya desgonzadas
sin hombros sin palabras
fuera de toda circulación

y llegan y llegas
instalándose en los bordes, fundándolos
marcando límites para la más profunda memoria
Yo era un vasto imperio virginal sin frontera sin
[conquista
carecía de pérdidas
reunía acumulaba tierras
sin saberlo

Pero ahora
mi reino es un círculo preciso
y en su perímetro arden presencias
los olvidados y los muertos
tú, los otros

Ahora cierro mi esfera y mis círculos
Sé sólo de los míos
Sé de la fruta germinada en la tierra más rica
encarnado es su centro
amargo el borde
hija de la Noche



Abril, 1982




Hanni Ossott, hasta que llegue el día y huyan las sombras, Caracas, Fundarte, 1983.

A UN JARDIN




Hay un jardín y un estanque
quietos
en la penumbra
de aquello que me es dado recordar
y el dibujo infinito de círculos sobre la faz del agua
Hay un pez rojo hurgando limo y liquen

Mi infancia se miró en el estanque
el pez se hundió en mí

No puedo ya cruzar esos verdes
No son ya míos los reflejos
El tiempo, la ruina, el deterioro
lo que lentamente se pierde entre el reino de las cosas
han dictado la poda

Otros hombres, otras mujeres, menos lacónicas quizás,
lo atraviesan

Compraron casa, jardín y estanque
Y o me llevé el pez
Saltó, magnífico
como las brasas de una palabra nueva
Yo me llevé la fluida e invisible imagen
del abismarse en aguas
Serenamente
he guardado la humedad
Me fructifica la red de innumerables algas
y el paso nervioso del pez
ávido de encuentros
curioso
indiferente
a hombres que adquieren casas o que las
[pierden
Como el pez, como la palabra
he saltado
Fuera de las aguas vi
por un instante
la otra casa que soñaste una vez en los límites
urgido por la reconstrucción
del ya agonizante estanque

Me queda el rojo
el ágil movimiento
el ojo atento del pez
el centro de un jardín inviolable.



Enero, 1982



Hanni Ossott, hasta que llegue el día y huyan las sombras, Caracas, Fundarte, 1983.

Hanni Ossott. Manuscrito: “La noche exacerba y sostiene”.
Archivo Familiar. ©Letra Muerta.