Jorge Aguiar Oliveira | Tondela (Portugal) 1956

Poeta appartenente allo storico gruppo dell’antologia poetica Sião, curata da Al Berto, Paulo da Costa Domingos e Rui Baião, pubblicata dalla casa editrice Frenesi nel lontano 1987. Jorge Aguiar Oliveira si è sempre mosso nell’ambito della poesia portoghese marginale (come quasi tutti i poeti appartenuti a questa notevole antologia). Il proprio centro d’interesse e forza della sua scrittura si fonda sulla devianza e su ciò che sembra non servire più a nessuno. La disforia elegiaca dei suoi versi si intreccia a un’euforia mutevole che spazia dall’ironia, alla rabbia e il disprezzo; la desolazione, l’allegria, il distanziamento, la denuncia. L’immorale sostituzione del confronto con la trovata del consenso tout court, che colora l’attuale scenario politico e le cui conseguenze in termini di viltà e mediocrità sono alla luce del giorno, traspare nei testi di Aguiar Oliveira. Aspetto che è di fondamentale importanza perché, secondo l’autore, condiziona tutta la realtà che ci circonda. In una civiltà nata dallo spirito critico, l’abbandono della dialettica a favore dell’unanimità uniformata, diventa giocoforza un segnale di disfacimento. Siamo così di fronte a un autore che si presenta con un linguaggio energico, graffiante e scontroso con la società odierna, il che lo rende una delle voci più importanti della poesia portoghese contemporanea.


O canil dos cães zarolhos



para o António Cabrita



desgraçadamente ladram mas não mordem

buscam nas urnas os donos
e estes passando a mão pelo pêlo
roubam-lhes a ração da boca
logo à boca das urnas

sempre fiéis e de beiços arreganhados
basta um açoite no traseiro
para ficarem mais obedientes e servis

os cães afiam os dentes
temendo as garras e os bicos dos abutres
numa ilusão - rasante às ciladas
da vida - gretada de palavras febris

uns ousam ladrar mais acirrados
correndo o risco de serem encarcerados
enquanto outros saltam a cerca
antes da manhã derramelar as hienas

e há os que se atiram contra o arame
farpado
esfarrapando-se em massa
num mimetismo desesperante

subalimentados ladram docinho
roçando as pernas dos donos
para ganhar um osso
na praia dos trompetes em chamas
à beira-mar da noite espezinhada
pelo terror das hienas
enquanto anónimos suicidam-se
no sussurro da infâmia
defronte aos que mastigam bolores
para sobreviverem

a caridade vai derramando asfixiante
misturando-se a um crude solidário

e é legal ladrarem um poucochinho
manifestando a ira de açaime sindical

cães velhos corroídos de crostas infecciosas
e respiração barbitúrica
rosnam aos espelhos do requiem
sabendo serem um enfarte de trabalhos
aos tratadores do canil

os veterinários vão ministrando remédios
contra-indicados corroborando
na deterioração lenta das carnes
embebidas em minutos sem sangue
cozinhando a ração para ser distribuída
aos da lista de espera que teimosamente restam
entre restos de lixo e lixos da fé

colocam açaimes controlando a informação
e uma coleira de mecânicas palavras escolhidas
repetidas até à exaustão

a imprensa tornou-se parasita e
os jornalistas uns piolhos de salão
alimentando-se de notícias tosquiadas
ocultam

a incómoda realidade para as hienas

os comentadores do regime viraram coveiros

e dentro das valas vão-se babando
as carraças que gravitam ao seu redor
vendendo-se para se sentarem à mesa
dum ficcionado banquete do real

com pedigree romano/nazi
tem o canil uma nova dona que vem
descaracterizando os sinais únicos
do âmago duma pátria

aos peixes saquearam as espinhas
aos frutos os caroços
e um temporal não se levantou

caminhantes dos atalhos moribundos
lançam ao passar pelos dias de esgoto
sementes bolorentas sabendo de antemão
ser o seu gesto inútil
ser e nada brotar
rosnam trovões sob a morte das searas

lembranças do purgatório ateiam fogo
às papoilas
ao redor jovens cachorros
arregaçam os caninos aos escaravelhos
que esperneiam nos subúrbios do planeta
em agonia
entrançando de nuances uma existência aziaga

nocturnos eram os rostos
diurnos os sonhos improváveis

improvável era encontrar os teus dizeres
guardados numa gaveta de nuvens
prenhas de anjinhos com açaimes
percorrendo lentamente o vazio
onde ao centro um fedelho agrafa
penas de toutinegra nas asas do vento
a raspar a saudade
apunhalando os rostos
no enterro do pensar porque
pensar é um veneno

e os retratos ardem nos lugares alertando
ser o amor um tumor de pó e cinza

perseguem estrada fora os da paz
uma antiguidade

mão de fogo outra de água espelhando o vulcão
cuspindo cadáveres enforcados
depositando a lava para os olhos
dos tempos que hão-de vir
cegando de pavor

pela estrada paralela caminham os da guerra
seguindo por agora no contrário dos outros
reacendendo um sangue no peito

ao fundo a encruzilhada

assim chegámos assim chegaremos
à roda a um fim de mínimos de tudo
onde o todo é um nada

aos cães bastaria
alimentarem-se bem na infância

daí para a frente o cagado seria o alimento
continuado num círculo rotineiro
até a morte aparecer para se alimentar da luz
e cuspir a carcaça

o mundo
mal cheiroso
confluindo merdas de vendáveis ilusões

como não é meu desígnio governar
fazer curriculum perpetuar a espécie
nem mesmo proferir oratórias
com estandartes bordados de lambidelas
a um qualquer regime
uso por hora as letras
para dinamitar
o covil das hienas eleitas
com um cante ao desafio

é escusado irem ver a barca bela
pois já não se faz ao mar
a treta nunca foi nela
e os escravos é que iam a remar

santa Merkel é o piloto
o FMI o general
que nojento trapo levam
o fado de Portugal

as palavras sempre pertenceram à morte

um dia um cachorro das últimas ninhadas
ladrará bem alto pela libertação do canil
ferrando os dentes nas contorções das hienas
até o veneno fritar-lhes o cérebro no parapeito
da janela defronte à estrada muralhada
de cadáveres em vinagre e nadas

nesse tempo de nova rotina doméstica
eu já não andarei por estas bandas

nesse tempo os homens voltarão
por algum tempo de novo a ler
nos remoinhos do saber mais além
enquanto lá longe vou minguando
em busca dos meus olhos laminados
por gente vil que conseguiu tornar-me
na dor que lhes convém

cego seguirei para voltar ao sofrimento da terra
onde todos os trajectos de
todos
os lugares vão sempre dar à morte

por hora
por hora volto
ao aconchego dos braços

o pouco que me resta

Jorge Aguiar Oliveira, Ranço, Companhia das Ilhas, 2014.




--- o ---




Il canile dei cani guerci


per António Cabrita



vergognosamente abbaiano ma non mordono

cercano nelle urne i proprietari
e questi passando la mano tra i peli
rubano la razione dalle loro bocche
quindi dalla bocca delle urne

sempre fedeli e con le labbra ridanciane
basta una frustata nel culo
per diventare più obbedienti e servili

i cani affilano i denti
temendo gli artigli e i becchi degli avvoltoi
nell’illusione - sotto le insidie
della vita - carica di parole febbrili

alcuni osano abbaiare più forte
rischiando di essere imprigionati
mentre altri saltano il recinto
prima che il mattino rovesci le iene

e ci sono quelli che si gettano contro il filo
spinato
lacerandosi in massa
in una mimica senza speranza

denutriti abbaiano con dolcezza
strofinandosi contro le gambe dei loro proprietari
per guadagnarsi un osso
sulla spiaggia di trombe ardenti
sulla riva notturna del mare calpestata
dal terrore delle iene
mentre persone anonime si suicidano
nel sussurro dell’infamia
davanti a coloro che masticano la muffa
per sopravvivere

la carità si riversa asfissiante
mescolata a un olio grezzo di solidarietà

ed è bello che abbaino un po'
esprimendo l'ira della musseruola sindacale

vecchi cani corrosi con croste infette
e respiro barbiturico
ringhiano agli specchi del requiem
sapendo di essere un infarto da travaglio
per i guardiani del canile
i veterinari somministrano i farmaci
controindicati che confermano
il lento deterioramento delle carni
imbevute di minuti senza sangue
mentre si cucina la razione del mangime da distribuire
a coloro che sono in lista d'attesa e che si ostinano a restare
tra i resti di spazzatura e i rifiuti della fede

posizionano le museruole che controllano le informazioni
e un collare meccanico di parole scelte
ripetute fino all’esaurimento

la stampa è diventata un parassita e
i giornalisti come pidocchi da salotto
che si cibano di notizie sfrondate
che nascondono

la realtà scomoda per le iene

i commentatori del regime sono diventati becchini

e nei fossati sbavano
le zecche che gravitano intorno a loro
si vendono per sedersi al tavolo
di un banchetto romanzato del vero

con pedigree romano/nazista
il canile ha un nuovo proprietario che
decaratterizza gli unici segnali
del midollo di una patria

hanno saccheggiato le lische dei pesci
ai frutti i noccioli
e una tempesta non si è scatenata

camminatori delle scorciatoie morenti
mentre attraversano i giorni del liquame lanciano
semi ammuffiti sapendo in anticipo
che il loro gesto è inutile
essere e non germogliare nulla
ringhiano i tuoni sotto la morte dei campi di grano

ricordi del purgatorio incendiati
papaveri
intorno ai cuccioli giovani
strappare con le zanne gli scarabei
che si aggirano per le periferie del pianeta
in agonia
intrecciando un'esistenza avversa con sfumature

notturni sono stati i volti

quotidiani i sogni improbabili

era impossibile trovare le tue parole
conservate in un cassetto di nuvole
pieno di angioletti con museruola
che viaggiano lentamente nel vuoto
dove al centro un bambino graffetta
piume di capinera sulle ali del vento
per radere via la nostalgia
trafiggendo voltii
nella sepoltura del pensiero perché
il pensiero è un veleno

e le immagini bruciano in quei luoghi per avvertire
che l’amore è un tumore di polvere e cenere

inseguono la strada fuori dalla pace
un’antichità

una mano di fuoco e un’altra d’acqua che specchiano il vulcano
mentre sputa cadaveri impiccati
versando la lava negli occhi
dei tempi a venire
accecando con il terrore

sulla strada parallela camminano quelli della guerra
per ora in senso inverso rispetto agli altri
riaccendendo il sangue nei loro petti

in fondo al crocevia

ecco quanta strada abbiamo fatto, ecco quanta ne faremo
in giro e in tondo fino alla fine del minimo di tutto
dove il tutto è niente

ai cani sarebbe sufficiente
nutrirsi bene durante l'infanzia

da quel momento in poi, la merda sarebbe il cibo
per proseguire in un’orbita abitudinaria
finché la morte non appare per cibarsi della luce
e sputare la carcassa

il mondo
puzzolente
confluente di merde di illusioni vendibili

poiché non è mio scopo governare
fare curriculum per perpetuare la specie
né di tenere un'oratoria
con striscioni ricamati di leccornie
a nessun regime
per ora utilizzo le lettere
per dinamitare
il covo delle iene elette
con un canto di sfida

è superfluo andare a vedere la bella barca
perché non è più in mare
le stronzate non riguardavano mai lei
e gli schiavi erano quelli che remavano

santa Merkel è il pilota
il FMI il generale
che disgustosi stracci indossano
il fado del Portogallo

le parole appartenevano sempre alla morte

un giorno un cucciolo delle ultime cucciolate
abbaierà ben forte per la liberazione del canile
conficcando i denti nelle contorsioni delle iene
finché il veleno non friggerà i loro cervelli sul parapetto
della finestra di fronte alla strada murata
di cadaveri nell'aceto e nel vuoto

in questo tempo di nuova routine domestica
non sarò più da queste parti

in quel tempo gli uomini torneranno
per un po' di tempo a leggere di nuovo
nei vortici del sapere dell'aldilà
mentre io, lontano, mi affievolisco
alla ricerca dei miei occhi laminati
da gente ignobile che è riuscita a trasformarmi
nel dolore che fa per loro

Sarò cieco per tornare alla sofferenza della terra
dove tutti i sentieri di
tutti
i luoghi portano sempre alla morte

per ora
per ora torno
all'intimità delle mie braccia

quel poco che mi è rimasto

Shot Bairro Alto


és tanso shot
bebendo bujecas
caipimerdas
vão à merda shot
falaciosos de calão
sem nexo shot
vidas falidas
copos plásticos
palhinhas e limas
arremessadas ao chão
garrafas de tinto
cerveja e vodka partidas
entoando és merda
já foste bat’fundo
deixa k’eu chuto
chupo outro
shot chamon cu de judas
guinchos histéricos
para abafar o malogro
do futuro
que os espreita

atormentados
seguram-se à bóia
impingida de ser
europeu é québom
shot o massacre de civis
continua
continua
a manipulação o controlo
câmaras de vigilância
nas esquinas das ruas

que se fodam
os europeístas
venha um grogue
a minha barricada
é o mundo
sou português


Jorge Aguiar Oliveira, Ranço, Companhia das Ilhas, 2014.





--- o ---




Shot Bairro Alto


sei shot di tanso
bevendo bujecas
caipimerde
fanculo shot
gergo balbettante
shot senza senso
vite in rovina
bicchieri di plastica
cannucce e lime
gettati per terra
bottiglie di vino rosso
birra e vodka rotte
cantando che sei una merda
hai toccato il fondo
lasciami calciare
succhia un altro
shot chamon culo di giuda
strilli isterici
per soffocare il fallimento
del futuro
che si prospetta

tormentati
si aggrappano alla boa
illusi di essere
europei che bello
sparare al massacro dei civili
continua
continua
la manipolazione il controllo
telecamere di sorveglianza
agli angoli delle strade

fanculo
europeisti
dammi da bere un grog
la mia barricata
è il mondo
sono portoghese

i


no aterro da sina
perdeu a mamã
na explosão à sua beira

abandonado
de braços mutilados
o miúdo não mais
sentou o rabo no baloiço
e, o berlinde pràli ficou
inútil no bolso
do resto do tempo

só as joaninhas
continuaram a saltar
à corda
defronte a’olhar



Jorge Aguiar Oliveira, Aterro, Companhia das Ilhas, 2022.




--- o ---



i


sulla discarica del destino
ha perso sua madre
nell'esplosione accanto a lei

abbandonato
con le braccia mutilate
il bambino si è appena
seduto sull'altalena
e, la biglia è rimasta
inutile nella sua tasca
per il resto del tempo

solo le coccinelle
continuavano a saltare
sulla corda
davanti al suo sguardo


vi



contrabandistas
de corpos
sacam órgãos aos miúdos
pròs feiticeiros usarem
na vigarice do reacender
das virilidades
perdidas
de ratos de laboratório
também servem
os miúdos
sem saberem
ainda curtir
uma madrugada
inteira



Jorge Aguiar Oliveira, Aterro, Companhia das Ilhas, 2022.





--- o ---




vi

trafficanti
di corpi
prelevano gli organi dai bambini
per essere usati dagli stregoni
per riaccendere le scommesse
delle virilità
perdute
di topi da laboratorio
servono anche
le nidiate
inconsapevoli
ancora di dover soffrire
un'intera
mattinata

Lascia un commento