
Nos versos de QUATRO POEMAS SOLIDÁRIOS de O centro na distância de António Ramos Rosa, a solidez da pedra distingue-se pela sua compacidade, que se recusa a ser penetrada. Seu mundo fechado é um convite para deixar nossa imaginação correr solta. Nós, de fato, somos o mineral que devemos trabalhar pacientemente para transformar a indiferença, a ignorância e a felicidade, na verdadeira pedra. El Che foi uma dessas pedras, fortalecida pela luta, cuja presença faz parte do nosso imaginário. Ele ainda é uma presença forte, porque a pedra está sempre aberta a uma nova vida e sua transformação. De facto, o herói argentino assumiu um novo significado para se transformar no símbolo da continuidade da nova história. De modo que se o poeta apresentar a matéria tosca da pedra para transformá-la em forma sutil através de um trabalho de humanização do dado, esta ação poderia se traduzir em termos de reconversão do cósmico humano em simbólico.
do livro Antonio Ramos Rosa, Obra poética I, «O centro da distância», “Assírio & Alvim, 2018. A MINHA PEDRA PARA JOSÉ GOMES FERREIRA Prólogo Se houvesse uma pedra a que eu pudesse chamar pedra Se não houvesse o cansaço das pedras que não são pedras que são apenas cansaço sem nenhuma pedra Se tivesse ao menos uma pedra que faria da pedra? Farei o que puder com a palavra pedra quer tenha a pedra ou não E se eu tivesse a pedra sem o saber se a pedra ou não de qualquer modo fosse essa pedra já que há tanto tempo habita a pedra que é desejo da transparência viva? ------------------------------------------ A pedra que eu habito A pedra que eu habito é um arco um arco de pedra Podes chamar-lhe buraco No buraco está o arco do buraco Queria mais que uma pedra queria outra pedra Invento uma pedra para esta pedra Invento uotro arco e outro e outro ainda Não saio do buraco Atiro uma pedra para ser flecha Mas será flecha? E será de fogo? Saio do buraco vou ao teu encontro com a minha pedra É uma pedra mesmo? Inventada ou não inventada e não é a minha pedra e por isso dou-ta com o calor da mão O prodígio é simples uma pedra apenas um buraco um insecto de súbito foge Agora é que é teu Se te dou a pedra logo a pedra existe Logo a pedra é pedra A pedra que encontrei quando ta quis dar quando te encontrei Se uma pedra existe todo o mundo existe Se esta pedra é pedra logo tu existes Todo o mundo habita no gesto da mão que te dá a pedra Toma então a pedra meu irmão ------------------------------------------ A FACE SUBMERSA DE CHE Gastarem-se as promessas da sempre morte viva Das sílabas do teu rosto novas palavras surgem Sob as palavras as sílabas se reúnem Outras palavras sob as palavras nascem A face submersa ressurge das raízes Sempre ou nunca mais de cada vez e sempre Um rastro se propaga rasga as superfícies Um perfume sislvestre desempesta as cidades As sílabas reúnem-se Uma bondade antiga retempera a revolta Gastaram-se as promessas A face submersa ressurge das raízes Outras palavras sob as palavras nascem. ------------------------------------------ CATARINA PALAVRA VIVA Catarina esta palavra vibra vive em nós não é uma palavra morta nem perdida Catarina é a palavra viva que ninguém fuzila Catarina o tei nome é mais que um nome ou é nome que encontrou um rosto a alegria viva além de nós aqui presente Catarina não é bosque musical mas uma pedra que canta de pé claramente pura com um rosto de água sua palavra viva ------------------------------------------ ATÉ ONDE VÓS ESTAIS Ó presenças amigas, ó momento em que alongo o braço e toco em cheio os rostos. A minha língua abriu-se para dizer a face do vento que percorre as vossas vidas. Estou perante a noite mais profunda, a delicada noite das raízes: vejo rostos vejo os sinais e os suores das vossas vidas. Atravesso árvores submersas, ruas obscuras, poços de água verde, e vou convosco ter, minhas faces lívidas, mãe, amigos, amores. A terra que penetro é este chão de terra com as raízes feridas, com os ferozes pulsos, a vertente que desço é uma subida às vossas vidas.
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levei. abraço
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